INTRODUÇÃO
À MUSICOTERAPIA
Amanda Viana Pontual
Palestra na Acorde’s Escola de Música
Setembro, 2015
Música
inspira, transpira, exala emoções. Desde a canção que toca nas rádios até a
maior das sinfonias. Dos bregas que embalam as “dores de cotovelo” aos
“batidões” que fazem o corpo dançar. A música, antes de ser arte, é expressão.
Essa
expressão que nos move e comove, que também fere e incomoda. As reações
diversas e adversas de combinações sonoras que nos fazem tanto bem, como também
podem nos fazer mal. E a música é terapia em si mesma. Porém, assim como ampla
é a gama de utilizações da música, amplos são os caminhos que levam a música a
ser mais do que tocar, ensinar ou utilizar a música para outros fins.
A
Musicoterapia é um destes caminhos. O caminho que não visa o estético, nem o
aprendizado propriamente dito da música. Mas que utiliza a combinação de sons
como um canal de comunicação, que visa, acima de qualquer coisa, a promoção da
saúde.
“A
Musicoterapia é fruto do encontro entre os saberes ligados à arte e à ciência”
(CHAGAS & PEDRO, 2008, p. 37). Talvez seja esta a frase que melhor resume o
que é a Musicoterapia hoje. Afinal, este campo que tanto permeou entre o
místico, o artístico e que mais do que nunca tenta fincar raízes no científico,
tem se revelado uma junção destas bases, assim como era no passado, quando a
ciência e a filosofia não eram seccionadas. Quando os saberes eram
interligados.
A
música enquanto elemento terapêutico não se constitui numa teoria nova. Se
buscarmos no passado, veremos que a mesma é utilizada desde o início da
civilização moderna. Ou até mesmo antes disso.
Rolando
Benenzon (1985), relata que os primeiros escritos sobre a utilização da música
para fins terapêuticos datam de 1500 antes de Cristo. Papiros encontrados em
Kahum no Egito, por Petri em 1899 já trazem relatos sobre a utilização da
música na fertilidade das mulheres. Bem como em passagens bíblicas, como em
Samuel (16:23), no qual é citado que Davi utiliza a harpa para afastar os maus
espíritos de Saul.
O
berço da civilização, a Grécia, traz a música sob uma ótica científica. “O
conceito de uma força terapêutica ou ‘harmonizadora’ na música tem prevalecido
na estética e educação musical desde a Grécia antiga.” (RUDD, 1990, p. 15).
Filósofos, matemáticos e pensadores. Homens como Pitágoras, Platão e
Aristóteles utilizavam a música como meio de se chegar a uma harmonia de corpo,
mente e espírito, promovendo a saúde e o bem estar.
Na
Antiguidade, Pitágoras, sábio grego que acreditava no princípio numérico como
base da existência do universo, escutava o som das estrelas e por meio dessa
sonoridade curava seus discípulos. Platão e Aristóteles, por sua vez, indicavam
melodias construídas em determinados intervalos e escalas com o objetivo de
colaborar com a formação dos jovens. A música foi ciência. (CUNHA, 2009, p. 2).
Porém,
a visão totalitária da ciência foi sendo abandonada ao longo dos séculos, sendo
substituída pela razão e experimentação. Toda ação, para ser aceita no meio
científico, deve passar por uma série de testes que comprovem sua eficácia. A
química se sobrepõe aos demais tratamentos.
A
música perdeu, no entanto, por todo o século XIX, muito de sua influencia como “poder
terapêutico” usual devido ao enfraquecimento geral do conceito de estética em
medicina e ao crescimento da filosofia positivista de ciência, enfatizando o
método experimental de procedimentos baseados na ciência natural. (RUUD, 1990.
P. 17)
O
caminho de volta da música ao campo científico da promoção da saúde começou a
ser galgado meio que ao acaso. Músicos profissionais foram contratados no pós
guerra, nos Estados Unidos, como meio de distrair soldados egressos das
batalhas. Mutilados física e psicologicamente, estes soldados passam a ter uma
melhora em seus quadros ao serem submetidos às sessões com música. “A
experiência musical provocou uma mudança no quadro clínico daquelas pessoas”
(CHAGAS &. PEDRO, 2008, p. 37).
Porém,
aos poucos foi-se percebendo que, para se obter melhores resultados, não
bastava apenas que o profissional fosse um bom músico. Era preciso que o mesmo
fosse também um terapeuta. A diferença está na visão e no plano a ser abordado
com cada paciente. A visão de um músico é basicamente estética, e sua abordagem
prioriza a execução musical. Um terapeuta irá traçar um plano para cada
situação, cada paciente ou grupo de pacientes, com uma visão muito mais voltada
para a promoção da saúde do que para o sentido estético da música.
Para
tanto, era preciso estabelecer um plano de formação para esta nova área. “Eles
avaliaram, então, a necessidade de se estabelecer um plano para a formação de
profissionais especializados na aplicação científica da música e seus
elementos: ritmo, altura, intensidade e timbre” (CUNHA, 2009, p.3).
Desta
forma, foram surgindo cursos em níveis de especialização e graduação em
Musicoterapia, com a finalidade de preparar o profissional Musicoterapeuta para
o campo de atuação.
A
Musicoterapia abrange áreas com as de reabilitação motora, no tratamento de
paciente neurológicos, psíquicos, ou simplesmente de prevenção de doenças. Não
há um campo único e exclusivo para o uso da Musicoterapia. A mesma é tida
também como terapia complementar à fisioterapia, psicologia, psiquiatria,
fonoaudiologia, etc.
Atualmente,
a Musicoterapia tem sido utilizada em diversos campos distintos, como na
reabilitação motora, no tratamento de problemas psicológicos, e até mesmo como
prevenção de enfermidades, promovendo, acima de tudo, saúde. A Musicoterapia
pode e deve ser associada a outras práticas clínicas para que obtenha melhores
resultados e possa contribuir de maneira mais eficaz com os planos de
tratamentos propostos. (PONTUAL, 2014, p. 33)
O
profissional Musicoterapeuta atua com o CBO (Código Brasileiro de Ocupações)
número 2263-05, como subárea de “Profissionais das terapias criativas,
equoterápicas e naturológicas”, como consta no Portal do Trabalho e Emprego, do
Governo Federal (2015). É reconhecido o profissional com graduação em
Musicoterapia e os portadores de especialização na referida área.
O
conceito de Musicoterapia variou durante anos. A última convenção da Word Federation of Music Therapy assim a
descreve:
A
utilização da música e/ou de seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia),
por um Musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, em um processo
destinado a facilitar e promover comunicação, relacionamento, aprendizado,
mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes,
a fim de atender às necessidades físicas, mentais, sociais e cognitivas.
A
Musicoterapia busca desenvolver potenciais e/ou restaurar funções do indivíduo
para que ele ou ela alcance uma melhor organização intra e/ou interpessoal e,
consequentemente, uma melhor qualidade de vida, através de prevenção, reabilitação
ou tratamento. (WORLD
FEDERATION OF MUSIC THERAPY, 1996, apud CHAGAS et PEDRO, 2008, p. 39)
Enquanto
campo de atuação, a Musicoterapia ainda busca seu espaço e reconhecimento,
muito embora tenha crescido consideravelmente nos últimos anos, muito em
virtude das políticas de humanização da saúde.
A
Musicoterapia ainda compete com a desinformação, que leva muitas instituições a
contratarem músicos sem formação específica para atuarem no campo terapêutico.
A luta do profissional Musicoterapeuta se dá pelo reconhecimento da área com
bases nos estudos científicos que comprovam a eficácia da utilização da música
na promoção da saúde, aliada ao plano de tratamento proposto pelo profissional,
que difere em sua base do plano da educação musical.
A Casa da Musika oferece atendimentos em musicoterapia para diversas áreas. Em 2018, a instituição inicia também uma parceria com a ONG Mães Guerreiras da Cidade de Paulista, realizando atendimentos a crianças autistas que não tem como pagar este tipo de terapia.
A Casa da Musika oferece atendimentos em musicoterapia para diversas áreas. Em 2018, a instituição inicia também uma parceria com a ONG Mães Guerreiras da Cidade de Paulista, realizando atendimentos a crianças autistas que não tem como pagar este tipo de terapia.
REFERÊNCIAS:
BENENZON,
Rolando O. Manual de Musicoterapia. Tradução
de Clementina Nastari. Rio de Janeiro: Enelivros, 1985.
CHAGAS,
Marly; PEDRO, Rosa. Musicoterapia:
Desafios entre a modernidade e a contemporaneidade - Como sofrem os híbridos e
como se divertem. Rio de Janeiro: Mauad X-Bapera, 2008.
CUNHA,
Rosemyriam. Musicoterapia na Abordagem
ao Portador de Doença de Alzheimer. 2009. Disponível em www.fap.pr.gov.br_arquivos_File_RevistaCientifica2_rosemyriamcunha Acesso em 07 de
março de 2012.
PONTUAL, Amanda Viana. Musicoterapia como Terapia Complementar ao Tratamento das Perdas Neurodegenerativas
da Memória da Doença de Alzheimer. Monografia de conclusão do Curso de
Especialização em Musicoterapia da FACHO. 2014
Portal do Trabalho e Emprego. Disponível em http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf Acesso em 12 de
setembro de 2015.
RUUD, Even. Caminhos da Musicoterapia. Tradução Vera Wrobel. São Paulo:
Summus, 1990.