quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

The Wall - A Ópera Rock do Pink Floyd. Parte 2

 "Eu estava sentado à mesa comendo algo e me senti muito mal. De repente, foi como tudo tivesse pegado outra dimensão. Tudo espalhou0se, tudo. Pensei: 'Diabo! Estou ficando louco. Deve ser assim.". De repente a realidade mudou completamente".

Um colapso nervoso de um homem que estava recentemente separado de sua esposa. Uma crise de pânico social invadiu Roger Waters que chegou a cuspir em um fã durante uma apresentação. Então a ideia de criar um muro entre ele e o público surgiu em sua caminhada ao hospital, após machucar o pé em um golpe de caratê errado, desferido contra um empresário. Faltava apenas o tema, o script de um concerto espetáculo com toques de tragédia grega e reviravoltas de um drama de ficção.


Waters veio ao estúdio com a demo de Bricks in the Wall. Sacramentou que este só funcionaria como álbum duplo. As opiniões foram divididas. Nick Mason disse que "era como um esqueleto com vários ossos faltando", mas no geral, gostou da ideia. David Gilmour achou "depressivo e chato", mas aprovou o conceito básico.

Bob Ezrin ficou com a incumbência de arrumar o roteiro que acreditava ser de um filme imaginário. Escreveu um livro de 40 páginas em uma noite, montando uma trama com a história pessoal de Waters e tentando enquadrar com as músicas já produzidas. "No dia seguinte, no estúdio, fizemos uma leitura de mesa, como seria feito com uma peça, mas com a banda inteira, e seus olhos brilhavam, porque conseguiram enxergar o álbum pronto" (BLAKE, pág. 292).

Uma vez aprovado, era hora de produzir história.


Uma Epopeia em Três Atos. Ato 1: Infância, Juventude e Vida Pessoal.



A primeira parte da história é baseada na vida pessoal de Waters. O personagem principal, nomeado de Pink, está rememorando sua vida. A primeira parte começa com a morte de seu pai na Segunda Guerra Mundial (o primeiro "tijolo no muro").

Faixa 1: In The Flesh? Uma apresentação ao público de que esta é uma obra tensa. Após algumas notas de um toque militar fúnebre, a banda entra com um som mais pesado. "Então você pensou que iria gostar de ir ao show. Para sentir aquele calafrio quente da confusão. Aquele ardor de um astronauta". Pink não está bem, nas palavras do locutor, que diz ser a banda substituta da noite. A música termina com o choro de um bebê.

Faixa 2: The Thin Ice. "Mamãe ama você. E papai ama você". Um acalanto para um órfão, que perceberá que passará a vida esquiando no gelo fino.

Faixa 3: Another Brick In The Wall (parte 1). Aqui a história começa a tomar corpo. É revelado que seu pai foi para a guerra e não retornou de lá. Este é o primeiro tijolo no muro que levará o jovem Pink a isolar-se do mundo.

Faixa 4: The Happiest Days Of Our Lives. Nesta faixa, Pink relata sobre o bullying sofrido na escola por parte de professores autoritários e que menosprezavam suas produções em sala de aula. Uma prática que ajudou a diminuir a auto estima do jovem Pink (ou seria o jovem Waters?).

Faixa 5: Another Brick In The Wall (parte 2).

  Neste momento, ainda falando sobre sua experiência ruim na escola, Pink diz que não precisamos deste tipo de educação e faz um apelo: deixem as crianças em paz. Aqui vemos uma crítica também ao modelo de sociedade que procura empurrar todos dentro de um padrão, e quem não se encaixar, será excluído dessa sociedade.

Faixa 6: Mother. Terminando o Lado A do primeiro disco da obra, Mother fala da relação entre mãe e filho. Sendo Pink órfão de pai, sua mãe se torna super protetora, Pink se torna dependente e aos poucos este excesso de zelo vai minando a capacidade de Pink em enfrentar o mundo. O muro vai se erguendo mais forte, sendo a mãe sua fonte de salvação contra o mundo cruel que está do lado de fora do muro.



Faixa 7: Goodbye Blue Sky. Ainda remetendo aos traumas causados pela guerra. Os bombardeios, o medo das bombas caindo. Atualmente, Waters usa esse momento para falar de outras guerras, passadas e presentes da nossa história.

Faixa 8: Empty Spaces. "O que devemos usar para preencher espaços vazios? Onde costumávamos falar? Como devo preencher os últimos lugares? Como posso completar o muro?" Reflexões de um homem atormentado pelo passado e presente.

Faixa 9: Young Lust. Neste momento da peça, Pink busca a luxúria como forma de encontrar prazeres na vida. Talvez em busca de uma mulher que seja o oposto de sua mãe. Os conflitos amorosos começam a ser abordados aqui. Para fechar de vez o muro imaginário da mente do personagem e o muro real do concerto, os relacionamentos entre Pink, sua mãe, seus professores e suas mulheres são apresentados como peças chave de uma receita que o levará a loucura.



Faixa 10: One Of My Turns. Intitulado de "Uma das minhas crises", este capitulo fala de um casamento se deteriorando, das crises de violência do marido e, consequentemente, do fim do relacionamento.

Faixa 11: Don't Leave Me Now. Pink apela para que sua esposa não o deixe.

Faixa 12: Another Brick In The Wall (parte 3). "Eu não preciso de braços ao meu redor. E eu não preciso de nenhuma droga para me acalmar. Eu vi a escrita na parede. Não acho que eu preciso nada. Não! Não acho que vou precisar de nada. No final, tudo era apenas tijolos no muro. No final, vocês eram apenas tijolos no muro". Pink se revolta com sua sorte e decide pelo fim de sua relação com a sociedade.

Faixa 13: Goodbye Cruel World. O último tijolo do muro é colocado. Pink se isola de vez da realidade da vida, das dores e decepções. É a sua loucura instalada.


Continua...


Leia também a primeira parte: The Wall - A Ópera Rock do Pink Floyd. Parte 1 

Bibliografia:

Pink Floyd: Behind The Waal. DVD. Dirigido por Bob Smeaton. 2000

BLAKE, Mark. Nos Bastidores do Pink Floyd. Tradução: Alexandre Callari. São Paulo: Évora, 2012