domingo, 16 de maio de 2021

Afrociberdelia: 25 anos


 

"'To enfiado na lama

É um bairro sujo
Onde os urubus têm casas
E eu não tenho asas
Mas estou aqui em minha casa
Onde os urubus têm asas
Vou pintando, segurando a parede
No mangue do meu quintal Manguetown"



Esses versos da canção Manguetown une duas das maiores características do movimento Manguebeat: a critica social e a referência ao mangue, ecossistema que percorre a maior parte da Região Metropolitana do Recife e que tem sido aterrado e destruído para dar lugar a casas, prédios e outros empreendimentos imobiliários.

Afrociberdelia é um neologismo composto pela aglutinação de Afro com cibernética e psicodelia. Refere-se aos ritmos que compõem a base do disco, desde o afro ao rock psicodélico e música eletrônica. É o segundo álbum da banda Chico Science e Nação Zumbi. O disco sucede ao Da Lama Ao Caos, primogênito da banda oriunda de Olinda.



O compositor e escritor paraibano Bráulio Tavares define o termo Afrociberdelia no encarte do disco: No jargão das gangs e na gíria das ruas, o termo "afrociberdelia" é usado de modo mais informal:

a) Mistura criativa de elementos tribais e high-tech:

"Pode-se dizer que o romance The Embedding, de Ian Watson, é um precursor da ficção-científica afrociberdélica"

b) Zona, bagunça em alto-astral, bundalelê festivo:

"A festa estava marcada pra começar às dez, mas só rolou afrociberdelia lá por volta das duas horas da manhã"




Além de Manguetown, o disco traz hits como Macô e a regravação de Maracatú Atômico de Jorge Mautner e Nelson Jacobina. Produzido por Eduardo Bid, o disco foi lançado após uma turnê da banda pelos Estados Unidos e Europa.


O disco acabou sendo o último de Chico Science, que viria a falecer menos de um ano depois de seu lançamento devido a um acidente de carro.




FAIXAS:


1) Mateus Enter (Chico Science & Nação Zumbi)

2) O Cidadão do Mundo (Chico Science & Nação Zumbi, Eduardo Bidlovsky)

3) Etnia (Chico Science, Lúcio Maia)

4) Quilombo Groove (Chico Science & Nação Zumbi)

5) Macô (Chico Science, Jorge Du Peixe, Eduardo Bidlovsky)

6) Um Passeio no Mundo Livre (Dengue, Pupilo, Gira, Jorge Du Peixe, Lúcio Maia)

7) Samba do Lado (Chico Science & Nação Zumbi)

8) Maracatú Atômico (Jorge Mautner, Nelson Jacobina)

9) O Encontro de Isaac Asimov com Santos Dumont no Céu (H. D. Mabuse, Jorge Du Peixe)

10) Corpo de Lama (Chico Science, Jorge Du Peixe, Gira, Dengue, Lúcio Maia)

11) Sobremesa (Chico Science, Jorge Du Peixe, Renato L.)

12) Manguetown (Dengue, Lúcio Maia)

13) Um Satélite na Cabeça (Bitnik Generation) (Chico Science & Nação Zumbi)

14) Baião Ambiental (Dengue, Lúcio Maia, Gira)

15) Sangue de Bairro (Chico Science & Nação Zumbi, Ortinho)

16) Enquanto o Mundo Explode (Chico Science & Nação Zumbi)

17) Interlude Zumbi (Bola Oito, Gira, Toca Gam)

18) Criança de Domingo (Cadão Volpato, Ricardo Salvagni

19) Amor de Muito (Chico Science & Nação Zumbi)

20) Samidarish (Dengue, Lúcio Maia)

21) Maracatú Atômico (Atomic Version)

22) Maracatú Atômico (Ragga Mix)

23) Maracatú Atômico (Trip Hop)


Referências:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Afrociberdelia


https://jc.ne10.uol.com.br/cultura/2021/05/12124300-classico-da-nacao-zumbi-afrociberdelia-completa-25-anos-e-segue-sendo-referencia.html


http://conteudo.ebc.com.br/portal/projetos/2016/chicoscience/

sábado, 15 de maio de 2021

Pet Sounds 55 anos

Texto de Amanda Pontual originalmente escrito para o blog www.acordesrecife.blogspot.com em maio de 2016

O ano era 1966. O dia, 16 de maio. Esta foi a data de lançamento de um dos álbuns mais icônicos da história do Rock. O gênio de Brian Wilson chegava ao seu ápice, antes que as drogas psicoativas e a iminente doença mental lhe roubassem a juventude e o brilhantismo.

Pet Sounds é mais que um álbum de Rock and Roll. É quase uma odisseia. Separa a história da música moderna em antes e depois. Nem mesmo os geniais Beatles ficaram imunes às inovações apresentadas neste disco. Aliás, Foram os mesmos Beatles a inspiração para a concepção deste trabalho. Ao ouvir "Rubber Soul" do quarteto de Liverpool, Brian Wilson sentiu-se tão inspirado e instigado que prometeu a si mesmo que lançaria o maior álbum da história do Rock.



Decerto, ele conseguiu, pelo menos pelo período de 1 ano, até ser superado pelo Sgt. Pepper's dos Beatles. São estes os álbuns que ocupam a 2ª e 1 posições respectivamente na lista da revista Rolling Stones dos 500 Melhores Álbuns da História.



Os Beach Boys eram, até então, conhecidos como a expressão da vida Californiana. Sempre com a temática do Surf e canções alegres, o grupo ajudou a imortalizar a imagem de praia, belas mulheres e um rock alegre que caracteriza a Califórnia. Já Pet Sounds é bem mais intimista, mais ousado e distante da antiga fórmula de sucesso adotada pelo grupo.



À época da concepção do álbum, Brian Wilson tinha apenas 23 anos. Assim como seus irmão Carl e Dennis Wilson, também membros da banda, era praticamente autodidata, tendo aprendido música com seu violento pai, à quem também se credita uma série de abusos físicos e psicológicos. É dito inclusive que a surdez de 95% a qual Brian é acometido no ouvido direito deve-se a uma surra imposta por Murry Wilson.



Para a concepção das faixas, Wilson abandonou os shows do Beach Boys e pôs-se exclusivamente a trabalhar em estúdio. Dentre as inovações do álbum estão a utilização de arranjos vocais bem elaborados, arranjos orquestrais e a utilização de instrumentos átipicos, como o Theremin. Há ainda a  utilização de sons incomuns como latidos de cachorros, latas de Coca-Cola, sinos de bicicleta e som de locomotiva.






O nome do álbum é, na verdade, uma homenagem ao produtor Phil Spector, de quem Brian era adversário e, ao mesmo tempo, fã. Ele se utiliza das iniciais do produtor para nomear o seu "Pet Sounds", que pode ser traduzido aqui como sons de estimação.



O novo som pensado pelo gênio de Brian Wilson gerou uma grande polêmica entre os integrantes do grupo, em especial ao vocalista Mike Love. Os atritos entre os dois músicos foi intenso e provocou mudanças nas letras e atrasos no lançamento do álbum. Averso às inovações promovidas por Brian, Mike Love afirmava que ninguém ouviria aquele disco. A história provou que ele estava errado. Não apenas Pet Sounds foi e é um sucesso como mudou os rumos do Rock. O produtor George Martin, dos Beatles, chegou a afirmar que, sem Pet Sounds, Sgt Pepper's nunca teria existido.

Hoje Brian Wilson é aclamado como um dos grandes gênios da música popular dos últimos anos. Pet Sounds atinge às Bodas de Ouro como a grande obra de arte de um gênio que perdeu-se na loucura antes de se encontrar com o reconhecimento e admiração dos amantes da boa música.


Curiosamente, Pet Sounds foi gravado todo em sistema Mono. Nesta época já era comum que as gravações utilizarem o sistema stereo, porém Brian Wilson decidiu não adotá-lo. Os motivos para tal decisão são muitos. Primeiramente, havia o fato de Phil Spector gravar em mono. Os rádios, programas de tv e os toca-discos também utilizavam o sistema mono. Porém a razão mais aceita é a de que Wilson decidiu usar o sistema Mono devido à sua própria condição de surdez parcial. Como ele só ouvia por um de seus ouvidos, não havia sentido gravar em sistema stereo.

Um dos maiores sucessos do Beach Boys, a canção Good Vibrations, ficou de fora da versão final de Pet Sounds, sendo lançada ainda em 1966 como compacto. O grupo iniciou as gravações do seu álbum Smile, mas a esquizofrenia mal tratada de Brian Wilson, aliada ao seu abuso de LSD impediram que o projeto fosse adiante. A banda entrou em hiato após o lançamento de Smiley Smile em 1967 retornando às paradas na década de 80. Porém sem nunca conseguir um feito histórico como Pet Sounds.


Tracking List:

1. Wouldn't It Be Nice
2. You Still Believe In Me
3. That's Not Me
4. Don't Talk (Put Your Head On My Shoulder)
5. I'm Waiting For The Day
6. Let's Go Away For Awhile
7. Sloop John B
8. God Only Knows
9. I Know There's An Answer
10. Here Today
11. I Just Wasn't Made For These Times
12. Pet Sounds
13. Caroline No



Referências:

http://www.glidemagazine.com/glide/wp-content/uploads/2016/03/beachboys33.jpg
https://kellmill.files.wordpress.com/2012/04/brian_wilson.jpg
https://www.jazz88.org/Images/brian_wilson_2.jpg
http://cdn8.openculture.com/wp-content/uploads/2014/10/ul.jpg
https://philspector.files.wordpress.com/2013/04/wrecking-crew-studio.gif
http://www.somvinil.com.br/wp-content/uploads/2012/04/sgt_pepper_cover2.jpg
http://d817ypd61vbww.cloudfront.net/sites/default/files/tile/image/RubberSoul_1.jpg
http://cultura.estadao.com.br/blogs/sonoridades/wp-content/uploads/sites/102/2016/05/pets.jpg
https://consequenceofsound.files.wordpress.com/2016/01/screen-shot-2016-01-25-at-8-19-14-am.png?w=807
https://nyoobserver.files.wordpress.com/2015/07/226096_10151357877914140_292684985_n.png
http://cdn2.pitchfork.com/longform/357/BrianWilson_GettyImages-74286442_1440x720.jpg
https://en.wikipedia.org/wiki/Murry_Wilson
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pet_Sounds
http://www.allmusic.com/album/pet-sounds-mw0000398074
http://www.beatrix.pro.br/mofo/beach.htm
http://www.rollingstone.com/music/lists/500-greatest-albums-of-all-time-20120531/the-beach-boys-pet-sounds-20120524