terça-feira, 27 de setembro de 2016

A História da Orquestra: 3º Movimento (Lully e os 24 violinos do Rei)


Jean-Baptiste Lully aparece na história da música como o notório compositor francês que deu ao violino a característica de ser o carro chefe de uma orquestra. Ele era, na verdade, italiano, nascido em Florença em 28 de novembro de 1632 e batizado com o nome de Giovanni Battista Lully.
Embora pouco se conheça de sua infância, sabe-se que aprendeu a tocar violino sozinho, apesar de seu pai não ter ligação com a música. Aos 14 anos ele foi levado pelo Duque de Guise para a França para trabalhar como cozinheiro. Logo seus talentos como violinista e bailarino foram percebidos e ele passou a incorporar a orquestra.

Em 1653 ele passou a integrar como músico nos “Petit Violons du Roi” onde logo conseguiu o lugar de 1º violino. Casou-se com Madeleine Lambert, filha do compositor Michel Lambert e naturalizou-se francês com o nome de Jean-Baptiste Lully. Na corte real, formou os 24 Violons du Roi (esta contava, por vezes, com o apoio de uma orquestra de 10 oboés e 2 fagotes) que é o primeiro conjunto especialmente criado para fins de concertos regulares para animar os balés da corte.
Em 1661 foi nomeado para o posto de compositor oficial do rei. No ano seguinte tornou-se mestre de música da família real. Criou, mais tarde a Academie Royale de Musique, que se tornaria a Grand Opera. Ainda foi o responsável por organizar as arcadas dos instrumentos de corda numa só direção, dando fim à antiga confusão de arcos desencontrados.
Criou a ópera francesa. Introduziu a overture française, conhecidas como aberturas lullianas, utilizadas por vários compositores de óperas e oratórios. Criou uma peça exclusivamente instrumental, em duas partes. A primeira em estilo homorrítmico, lenta e majestosa. A segunda mais rápida, contrapontística, ou começando em estilo fugado e com desfecho lento.
Se aproveitando do gosto do rei Luís XIV pela dança e seu exibicionismo nesta arte, Lully ampliou o papel da orquestra nos balés e adicionou a cena dançada por bailarinas. Introduziu o minueto e danças mais rápidas. Evoluiu a suíte barroca para o concerto e a ópera. Criou assim o gênero comédia-ballet, com números dramáticos e dançantes para apresentar na corte. O primeiro foi “O burguês fidalgo” de Moliére, além de obras inspiradas nas tragédias de Corneille e Racine, cujos temas exaltavam o rei da França.
Parou de tocar e passou a coordenar o pulso da orquestra batendo no chão com sua bengala, que utilizava por ser coxo. Numa de suas regências, mais especificamente durante a execução de um Te Deum, bateu ferozmente no pé com sua bengala e morreu 15 dias depois por septicemia, em 22/03/1687.

Principais obras: a pastoral “Le temple de La paix” (1685) e as óperas “Le Triomphe d’Alcide”(1674); “Athis”(1676); “Thésée”(1675); “Amadis de Gaula”(1684); “Roland”(1685) e “Acis et Galatée”(1686).

Leia também as duas primeiras partes da História da Orquestra.


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A História da Orquestra: 2º Movimento (Monteverdi)

Monteverdi e a primeira orquestra.



Claudio Monteverdi foi um compositor italiano cujo aprendizado musical que obteve era fundamentado na composição contrapontística e modal, característica do século XVI. Ele, porém, optou pelo caminho da homofonia e deu início a um estilo de composição tonal. Mas os seus principais feitos no campo musical ainda estariam por vir.
Monteverdi decidiu aliar o teatro ao canto com a ajuda de uma grande massa instrumental. Nascia então a ópera. Nesta atmosfera inovadora é que, em 1607 “Orfeu” é apresentada ao público. Trata-se da primeira ópera conhecida, bem como o primeiro agrupamento orquestral de que se tem noticia. Monteverdi também criou a grade de orquestra para o regente.

O tema da ópera é uma história de origem grega. O corpo orquestral é formado por 40 músicos aproximadamente e instrumentos dos mais variados. Na lista anexada à partitura constam os seguintes instrumentos: 2 cravos; 2 violas contrabaixo (que equivale ao contrabaixo moderno); um grupo de 10 cordas (provavelmente violinos, violas e violoncelos); 1 harpa dupla; 2 violinos piccolo; 2 alaúdes baixos; 2 órgãos portáteis de tubos de madeira; 3 violas da gamba; 4 trombones; 1 órgão de palheta; 2 trombetas (hoje equivale ao trompete); 1 flauta doce e 1 clarino (trompete agudo).
Essa formação orquestral nos parece bem confusa, para muitos é caótica. Porém sua importância não pode ser negada, uma vez que das melhorias que surgiram à partir dela, é que se originaram as grandes composições tanto no campo da ópera como da música puramente orquestral.
Monteverdi é o grande inovador da música do renascimento. Além de empregar os acompanhamentos instrumentais, ele se utilizou de dissonâncias e cromatismos em suas obras. Sua vida pessoal, no entanto é repleta de tragédias. Perdeu a mulher e os dois filhos devido à peste, e acabou por ordenar-se padre em 1632. Foi professor de G. B. Rovetta, de Schütz e de Cavalli, entre outros.
Suas principais obras são as religiosas “Madrigais Espirituais” de 1583 e “Vésperas da Virgem” de 1610; e as profanas “Canzonette” de 1584 e “Scherzi Musicali” de 1607, além de nove livros de madrigais (1587-1615) e óperas como “Orfeu” de 1607; “L’arianna” de 1608; “Il ballo delle ingrate” de 1608; “Tirsi e Clori” de 1616; “Il combattimento de Tancredi e Clorinda” de 1624; “Il ritorno d’Ulisses in pátria” de 1641 e “L’incoromazione de Poppea” de 1624.

Monteverdi foi o último dos grandes compositores polifonistas e aquele que abriu o caminho para a música homofônica, tonal e dramática do período barroco. A partir dele, a música instrumental foi ganhando importância cada vez maior que culminou em grandes concertos. Da mesma forma, as evoluções dos instrumentos se deu com a finalidade de se buscar uma melhor sonoridade ao que ele criou, a orquestra.

Leiam também o 1º capítulo: Primórdios

Parceiro: Casa da Musika

terça-feira, 6 de setembro de 2016

A História da Orquestra: 1º Movimento (Primórdios)



Ao adentrarmos uma sala de concerto, nos deparamos com as cortinas fechadas e um som um pouco confuso vindo do fosso do palco. É o momento em que a orquestra afina seus instrumentos para dar início à execução de uma determinada obra. Esse ritual tem-se repetido através dos séculos e encantado diversas gerações.
É dado o crédito pela invenção desta maravilha ao compositor renascentista Claudio Monteverdi que, em 1607 reuniu um considerável número de instrumentos para a montagem daquela que seria a primeira ópera da história, “Orfeu”, inspirada numa peça grega de mesmo nome.
Vem da Grécia, também, a origem do nome orquestra. A orquestra grega, cujo nome quer dizer “lugar para dançar” era o espaço ocupado pelo coro e onde as danças eram realizadas. Separava o público da cena. Da mesma forma ficou disposta a orquestra renascentista, que recebeu esse nome devido ao espaço que ocupa e não pelo significado da palavra.

Orquestra grega


Inicialmente, as orquestras não possuíam uma forma definida. Os instrumentos variavam segundo a intenção do compositor. Porém, ao contrário do que muitos pensam, não se tratava de uma pequena quantidade de instrumentos. Orquestras gigantescas foram usadas entre os séculos XVII e XVIII, porém apenas se multiplicavam os instrumentos, a estrutura era, ainda, menos complexa em termos de orquestração.
Nos séculos seguintes, a orquestra modificou-se consideravelmente. Foram escritas diversas peças com caráter instrumental, os violinos se tornaram a espinha dorsal do conjunto orquestral, a família das violas ficou obsoleta e foi substituída pela dos violinos, outros instrumentos (especialmente os de sopro e percussão) foram incorporados e as obras ganharam maior complexidade ao longo dos séculos.

Aqui desenvolvemos um pequeno estudo de como se deu essa evolução em meados do século XVII, quando foi criada, e século XVIII quando as mais profundas melhorias foram feitas nas mesmas.

Aguardem os próximos capítulos...

Parceiro: Casa da Musika

Interlúdio do Blog

Este blog destina-se a divulgar assuntos sobre música, instrumentos musicais e história da música e de seus representantes.

Tomo como inspiração a frase de Arthur da Távola, que dizia que "Música é vida interior. E quem tem vida interior, jamais padecerá de solidão". O nome deste blog é uma homenagem a este musicólogo que apresentou por anos o programa "Quem Tem Medo de Música Clássica".

Espero que gostem!!!

Parceiro: Casa da Musika