O som ecoa pelas frestas da porta do quarto. O pequeno Tuhu se sente atraído pela música que toca na sala de sua casa. Desce a escada e esconde-se atrás de um móvel para ouvir, até que é avistado pelo seu pai, que lhe dá uma bronca e o manda subir. A mãe do jovem chega para colocá-lo em sua cama e ouve a indagação: "Por que não posso ouvir aquelas músicas? Não é injustiça?". Logo sua mãe acalmava-o dizendo: "As crianças devem dormir cedo para acordar cedo e aproveitar bem o dia, como os passarinhos". "Os passarinhos cantadores?", e assim adormecia o menino.
Foi numa destas escapadelas que o pequeno Tuhu, ouviu pela primeira vez a obra de Bach. E como ficar imune a esta música celestial? Desceu alguns degraus da escada e pôs-se a escutar, adormecendo ali mesmo. Sua mãe o coloca de volta em sua cama e ele desperta com uma pergunta:
- Mãe, que música era aquela que parecia vir do céu?
- Bach.
- Quem é Bach?
- Foi um grande compositor que viveu há muitos anos.
- Já morreu? Está no céu?
- Está.
- Pois um dia, no céu da música, vou me encontrar com Bach. (Silva, 1974)
Vendo que não havia outro jeito, senão incentivar seu filho a estudar música, seu pai então começa a dar-lhe aulas de violoncelo. Contando com apenas 4 anos, Raul manda adaptar um espigão em uma viola, criando assim um cello especial ao pequeno Villa.
Aos 6 anos, um evento especial na vida do pequeno Heitor. Sua família passou uma temporada em Bicas e em Cataguases, no interior de Minas, fugindo de uma possível perseguição política devido a oposição de Raul Villa-Lobos à Floriano Peixoto. Lá, Tuhu conheceu o som da viola sertaneja, das rabecas e sanfonas.
Apaixonado por aquela moda, o menino fugia constantemente de casa para estar entre os violeiros nas rodas regadas a cachaça, o que tirava o sossego de sua mãe. Ele perguntava aos músicos com quem haviam estudado, e ficava encantado ao saber que aprendiam de ouvido. Também se encantou com os sons da natureza, das vacas a mugir e dos pássaros a cantar. Essa experiência serviria anos depois para as buscas e composições do maestro Villa-Lobos.
Aos 8 anos, escondido do pai, resolve experimentar o clarinete deste. Ao ouvir os sons estridentes, o pai chega ao pé de Tuhu e com a cara amarrada lhe dá a ordem: "Pega a clarineta já! E logo mais tens que me tocar toda a escala, ouviste?". (SILVA, 1974, p. 45). Ao chegar mais tarde, o menino toca para ele as escalas maiores e menores no instrumento. O pai sorri por dentro de sua aparente dureza, pois havia em sua linhagem um filho músico.
O professor Raul era exigente. Ao surgir qualquer som, seja de um bonde a passar, um apito ou um arrastar de cadeira, perguntava ao jovem Heitor: "Qual o tom?" e este lhe respondia sempre corretamente
Aos 11 anos, uma tragédia. Seu pai Raul falece, com apenas 39 anos, de varíola. Perde um pai e um professor. A música deveria ficar em segundo plano. Sua mãe desejava que ele fosse médico. Mas não havia mais volta. Heitor nascera para ser músico. Aos 12 anos começa a compor. E, para desespero de sua mãe, fugia às noites para meter-se em rodas de chorões.
Villa-Lobos aos 18 anos |
O clarinete e o violoncelo eram uma alegria para Heitor. Mas era o violão a sua verdadeira paixão. E nele, Villa-Lobos iria compor algumas de suas obras mais notáveis.
Continuem a jornada pela vida de Villa~Lobos nos próximos artigos.
Aproveitem e leiam o primeiro capítulo da série
Referências:
BUENO, Roberto. Pedagogia da Música - Vol. 1. Keybord Editora Musical LTDA. Jundiaí, 2011
SILVA, Francisco Pereira da. Villa-Lobos. Ed. Três. São Paulo, 1974
Grandes Compositores da Música Clássica: Villa-Lobos. Abril Coleções. São Paulo, 2009
Antônio Carlos Gomes, José Pablo Moncayo, Heitor Villa-Lobos, Alberto Ginastera: Royal Philharmonic Orchestra. Mediasat Group S.A.: texto e documentação Eduardo Rincón: tradução Eliana Rocha. Publifolha. São Paulo 2005 (Coleção Folha de Música Clássica)
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